Gustave Flaubert, depois de rever as provas de Bola de sebo escreveu:«O conto do meu discípulo é umha obra prima, mantenho o que digo,umha obra prima de composiçom, de comicidade, de observaçom». Eaugurou: «Este pequeno conto permanecerá».Quando a obra foi publicada dentro do livro As veladas de Médan,a crítica conservadora qualifi cou-na de medíocre, estúpida, grosseira,desavergonhada e mesmo de mal escrita. Quase século e meio maistarde Bola de sebo é considerado um dos relatos mais perfeitos dahistória da literatura e Guy de Maupassant, um dos melhores contistasde todos os tempos. Assi, Borges, que dizia de si mesmo: «Nom seise som um bom escritor; mas acredito ser um excelente leitor ou, emtodo o caso, um sensível e agradecido leitor», incluía esta obra entre adúzia de relatos mais memoráveis da literatura universal.As numerosas adaptaçons cinematográfi cas de que foi objeto,como Bola de Sebo (1946) do francês Christian Jacque, Pyshka (1934)do ruso Mikhaïl Romm, Oyuki, a virgem (1935) do japones Kenji Mizoguchiou A diligência (1939) do estadunidense John Ford, que elevouo western à categoría de arte, confi rmam a sua universalidade.Através dos contos, realistas ou fantásticos, que revelam umha extraordináriadestreza narrativa, Guy de Maupassant construiu um mundoliterário de grande originalidade e força dramática que conservao vigor apesar do tempo transcorrido, como demonstra o êxito dassuas adaptaçons televisivas em France 2, de 2007 a 2009, com umhaaudiência de mais de oito milhons de espetadores. Essa capacidadede ser contemporáneo de todas as épocas, de suscitar o interesse deumha geraçom após outra, ainda que as interpretaçons podam diferir,é o que caracteriza um clássico.Os relatos recolhidos neste livrinho estám feitos para ser lidos deumha só vez, como um trago denso e intenso que permanece nopaladar.